quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Café



Café, café, caféééééééé.
Acordo, café, nascer do sol.
Repito o ritual: Acordo, café, nascer do sol.
Glorificada cafeína, adulada a cada início. Não me lembro do dia de ontem, vícios, drogas e autodestruição…
Colo imagens roídas pelos ratos da minha mente (e aquela última cerveja). Olho em volta...porra, ia direito para o inferno, 14 anos de lascívia em mim, sou doente, não sou?
Whiskey limpa a chávena, o líquido suja-me a alma. "Mas já não a vendes-te? Não se aceitam devoluções!"
Qual é a minha cena com vermelho e negro entremeados, enleados, enclausurados em si próprios. Cresce tu, cresce ela, estagno eu e talvez, só talvez algo pudesse, num bizarro universo, vir a acontecer (estranho, estranho e estranho ainda mais).
Lembranças voltam, 3 ou 4 anos atrás, não foi assim que a minha queda inversa começou, a pensar nisto? Olhos bonitos, nada de riscas só alguns riscos, azuis, outros tempos.
Inquirições, que fazes aí? Não é por obrigação, é porque quero, é porque não sei viver de outra forma. Mudo? Gosto de mim assim, não posso chorar por ter vivido a vida desde que me destruí. Café, dá-me outro, meio deslavado, aguardente ao lado, estou desfeito de mais. Cravo um cigarro, estimulante ou calmante, não me interessa…
Sorri, caralho, sorri, não há medo que te deite abaixo, certo?
Tens o queres?
És um rei no teu castelo.
Talvez só talvez.
Uma amiga da Barbie talvez te ache graça, sóbrio.
Um cimbalino duplo, se faz favor!

domingo, 25 de novembro de 2007

Á Esquerda de Deus


Eu reconheço o caminho, o sentimento, o desejo…

Sabes como é, renascer, sair a rua, sentir o frio na cara, senti-lo correr entre as minhas orelhas, entre as minhas cicatrizes, vivas, escarlates, mas agora nada mais que lembranças subjugadas pelo doce peso do presente.

Senti-lo na barba, símbolo de mim, expressão que tantos entendem como uma fuga a realidade, mas tu sabe-lo, sabes que é um elogio aquilo que é o fantástico…

Que estejamos aqui, neste momento, vivos, celebrando a carne, celebrando o que te mantêm nesta gloriosa, negra, suada e fria esfera sobrepovoada.

Já o sentiste?

O sentimento de caminhares sozinha, mas se fosse como tudo o mundo caminhasse contigo, ao teu ritmo, numa música que só tu conheces, que só tu ouvistes em sonhos recalcados, sonhos de luz que tu não compreendestes em manhãs que vieram demasiado cedo, de sonhos interrompidos pela existência mundana. Sabes agora que essa existência é só um mecanismo, um processo, um metafórico picar do ponto, o suster da carne pelo suor-não-tão-divertido.

Agora já nem sentes dor dos sonhos perdidos, porque os vives, porque quando fechas os olhos vês mundos para além das tuas paredes, para além dos titãs de cimento, das árvores que já viram a criação e destruição de vidas?

São estas as questões que te deixo, as questões que me deves responder!

Quero ver-te a descrever tudo, virtuosamente, de forma verbosa, criativa, criadora…

Quero que completes as minhas frases, que sonhes comigo no silêncio cortado pelos sons da carne, que te vistas de penumbra só para os meus olhos, que ascendas comigo…

Quero saber apenas se estás pronta, se és tu, se és digna, se tu caminharás comigo, à esquerda de deus.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Beijo Molhado


O meu primeiro beijo foi de uma foca, não há como negá-lo. Foi um beijo molhado, com bigodes, o 27º de uma fila de putos ranhosos, dia de Inverno, quase Natal.

Como qualquer primeiro beijo foi uma experiência traumática, ampliada pelo facto de ter envolvido uma foca, imaginem o horror para um miúdo de 8 anos. É que os mamíferos marinhos até são simpáticos, mas de pouca confiança, penso eu, hoje, depois de tanto tempo passado. É que as focas são umas grandes pêgas, beijam assim, filas de miúdas em visita escolar, sem pensar duas vezes e depois lá vão elas brincar com bolas, saltar aros e comer sardinha.
É obvio que isto estraga o resto da vida de um gajo, e é que nem ver o Ghost – O Espírito de Amor com o multi-galardoado actor Patrick Swayze e com aquela outra gaja, me faz esquecer disto!

Tentei de tudo para esquecer, do álcool ao Badmington, mas nada me faz esquecer da Amanda, a foca Amanda, de como para ela eu só foi mais um humano seco, pouco salgado, no seu caminho para o estrelado aquático.

Só mais uma coisa…Esta história deprime-me…

Agora desculpem-me, tenho que ir pentear a minha colecção de Barbies Malibus.



domingo, 18 de novembro de 2007

O dia em que uma torrada destruiu o mundo


Concebam, por um minuto, esta possibilidade:
O mundo acabado por uma mísera torrada, o universo rasgado na sua estrutura por manteiga a mais num dos lados. Pensem nisso, uma torrada com manteiga cai com a manteiga para baixo, ora o que aconteceria se tivesse manteiga dos dois lados? Dizem os moderados que a torrada ficaria a fazer uma espiral infinita a poucos milímetros do solo, mais especificamente a 3 milímetros do dito pavimento, enquanto outros (loucos) dizem que a torrada caí, simplesmente, de um dos lados, de forma aleatória…
Aleatória, ora aleatória!
Tudo tem que ter um sentido!
Ora compreendida a base, chegamos ao meu plano!
Quero destruir o espaço-tempo continuum com uma torrada. Se o tempo for destruído aquele momento desaparece, se o espaço se rasgar, o local onde tudo aconteceu desfaz-se até ao nada.
Por isso não esperava ela! Vai ver a cabra!
Está tudo pensado, o meu pai era Leão e eu sou Capricórnio, portanto tenho que atirar a torrada do 12º andar com o vento a 7 nós náuticos…
Ah, o mais importante, o signo dela é Peixe, ergo, a torrada tem que cair na Rua D. João III. O tipo de manteiga é indiferente, mas o pão é bom que seja branco, alvo como o meu amor…bah!
7 De Dezembro, 12º andar, vento a 7 nós, rua D. João III, tudo planeado, pensado, pronto, tudo a postos.
A torrada cai.
E…
Nada!
O universo é um todo ainda. Torrada esmigalhada no asfalto, não tinha previsto a carrinha da Fedex.
Tento para o ano outra vez!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Erro


Foste o meu erro. Querer-te foi o meu erro. Querer-te fora de tempo foi o meu erro. Querer-te fora de mim foi o meu erro.
O erro foi todo meu porque eu quero que seja meu, porque a minha sede do absoluto me exige, aqui e agora e até a hora da minha tão antecipada morte.
Doce autodestruição.
Mais vale a desilusão, querida, mais vale do que te iludas do meu valor fugidio, porque isto não tem vida, está morta a paixão, morreu debaixo das minhas botas bamboleantes.
Nunca te amei, ficamos assim, ninguém sofre, certo?
Gostaste da minha ilusão, entreteve-te?
Mantive-te acordada até tarde, elevei o teu ego…
Pelo menos isso, que te tenha agradado a atenção.
Bah! Isto já está a durar demais, cá dentro só existe ódio, desprezo todos os meus actos. Já nem acredito no que digo.
Foda-se
Precisar de te ver uma outra vez.