domingo, 24 de fevereiro de 2008

Uma tarde qualquer...

Niilismo divertido, porta para uma existência profunda, esquecer pormenores e pontos de apoio na moralidade, sociedade produtiva destruída pelo espírito livre, estar na relva procurando o sentido da vida, 43 minutos que nos restam até ao fim do mundo e nós discutimos a força de uma frase sem sentido.
Por entre fés perdidas e dúvidas eternas descobrimos o sentido do respeito e da vida. Por entre discussões revelamos medos e procuramos por mais...
Sabes que o meu medo é distante do teu, temo a loucura e o afastamento da realidade e no entanto, sabes, no entanto executo longas caricias a ambas como quem acaricia uma pitão.
Sabes disso, não há mal que não concorde contigo!
Não me peças para respeitar um livro, não te justifiques compulsivamente, respeito-te a ti, figura física perante mim, conquistastes o respeito e isso é o mais que posso fazer por ti.
Não me peças para respeitar algo que não me possa olhar nos olhos, respirar e beber um copo comigo…
Isso e a majestade do céu nocturno, isso posso respeitar.
Nada mais, nada intrinsecamente, nada a priori, não trabalho assim.
Podes pedir-me a minha bondade, dar-te-ei a medida apropriada.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Sangue


Não espero que louves a minha moral duvidosa, que compreendes a minha realidade relativa.
Esta era a única decisão possível, o único caminho aberto num deserto ético pleno de ravinas mal assinaladas.
Tive que te destruir nesta madrugada…
O teu sangue e as minhas lágrimas, as tuas lágrimas e o meu sangue, misturam-se com o nevoeiro de uma noite morta que ainda não é madrugada. Projectados, enleados os fluidos de uma paixão extinta que tingem um chão há muito caminhado por nós.
Foi aqui que te vi pela primeira vez, tão bela como o pecado, tão sedutora como aquele canto escuro da minha mente, tão bela que te converteste nesse canto escuro, roubaste-me da minha luz.
Disseste-me sim demasiado cedo, caí, caí a acreditar num qualquer clássico cliché romântico, dês-te asas a besta dentro de mim como nenhuma antes de ti e agora suspeito que nenhuma te irá superar depois disto, foste o meu único pensamento em horas perdidas, horas em que o mundo morria para nós, em que podiam morrer todas a vidas deste glorioso planeta de miseráveis.
O sangue continua a correr, agora sei o que vai acontecer, tudo é claro, iluminado e até um pouco simples, simples pela primeira vez…
Quando voltei a este local era um último esforço para continuar eu (sabes bem o que és!), olho para o abismo e o abismo olha de volta para mim (sim, de volta para mim), não posso continuar assim, já não me reconheço, a minha paixão por ti mudou-me de uma forma com a qual não sei lidar (Diz-me o que fazer, porra!), preciso de uma saída…
A faca, sinto-a mais fria do que estava a espera, o sangue mais quente. Sabes que isto é o fim, sabes que assim que o meu sangue tocar a água estará tudo acabado.
Destruí-te, a culpa vai devorar-te e quando eles vierem por ti já não haverá nada da tua essência (monstro!).
A tua faca na minha pele, carne, cartilagem, osso é o teu final, o esvair do sangue como uma ampulheta.
Eu estou morto e tu mais valia que estivesses.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A intimidade de um cigarro

Delineio ideias na intimidade de um cigarro, desposo conceitos enquanto me retiro da vida por força do fumo. Posso roubar-te um pouco da tua morte? Algo que me retire o apetite por aquilo, o mais, o indefinido. Passa-me um pouco da tua vida, tão cheia, tão repleta de existências, de palavras que não conheço…
Digo ainda porque estou longe de perder a minha esperança, fala-me pois daquela estória, de como te perdeste, do sangue que pisaste, de como te sentiste morrer nos braços de alguém que não te amava. Inclui-me nessa tua vida, faz de mim uma adenda, na minha é tudo demasiado claro, vejo-me demasiado bem, não me consigo esconder de mim próprio por entre o fumo, como tu tão bem fazes…
Desvias-me do meu caminho, dizes-me que não, que me invejas…
Mas como pode isso acontecer?
Vida livre, tabula rasa assente em pilares bem firmados no terreno carnal, sei o que preciso de saber.
Dizes-me que sou luz, que não me devia esforçar por ser igual a ti, mas, mas…Dá-me outro cigarro! Deixa-me delinear linhas de fumo no teu corpo, perdidos, sem sentido, sem força para mais, será que existe mais?
Quero explorar a tua mente, quero conhecer todas as tuas estórias ao longo desta noite, caminhando ao longo de uma rua vazia ou naquele último bar, frio doce cortando as minhas amarras ou o doce calor da tua boca em entusiasmante deambulações.
Constrói para mim um conto no qual eu te salvo da escuridão que te persegue, em que não te faço esperar, em que sou o que merecemos.
Mas por agora, já, dá-me mais um cigarro. E não, não é deprimente, mas morremos todos.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Real

Só existes porque eu quero, só existes porque eu já existia, só existes porque a minha mente precisa de te conceber.
Repara, não vejo nada de ti fora da minha presença, só existes na minha interacção contigo, não vejo provas de ti fora de mim.
Passo dias a perseguir o teu cheiro e nunca o consigo encontrar. Faz sentido, não faz?
Não vale a pena contares-me a história da tua vida, eu sempre tive boa imaginação, sempre criei estórias para todos os meus amigos (imaginários). Essa tua posse não é mais que resquícios de todas as outras (reais) que vieram antes de ti e que virão depois e que estão aqui, agora, tão fugidias, tão reais e tão eternamente desinteressantes! Pelo menos tens isso a teu favor…
És falsa para o mundo, eu sei, mas não te preocupes, não stresses. Para mim tens mais coração, mais mente, mais consistência que qualquer uma, qualquer outra, qualquer realidade…
Mantenho te aqui, animal de estimação da minha mente, acaricio-te os cabelos, fazes-me tranças, nestes tempos esquecidos em pensamentos vãos, nestas paragens que só nós visitamos.
É verdade, já não sei quem doou para a tua construção, de onde vieram essas tuas orelhas, esse sorriso, essas ancas, essas mãos tão invasivas. Mas sei quem te deu esse domínio do Sonic e Knuckles, quem te explicou quem foi o Bakunin, quem te ensinou a entrada espanhola e a fazer bolonhesa. Quem fez de ti uma imaginação tão porreirinha…
Gosto de ti assim, Frankenstein fofinho, mesmo que não existas!
Já agora, onde é que estamos?
Perdi-me neste pensamento, devia ter saído dele há dois argumentos a trás.