segunda-feira, 31 de março de 2008

Luz


7 anos depois, tudo continua na mesma…
“Luz, muita luz, escondida por trás desse manto negro”
Palavras marteladas amargas, elogio fingido, doce que ficou à chuva tempo de mais num mundo que não perdoa indecisão.
Julgava-te morta, pensava em ti como uma personagem de uma estória demasiado floreada, demasiado melodramática, era mais fácil ficcionar o passado.
7 dias, 7 meses e 7 anos depois da queda…
Depois que partimos, sem destino, para não voltar, para ir para algures repleto de luz ou, quiçá, apenas de caras novas.
Como te amei nessa tarde, uma última vez que nunca me denunciou o fim, fogo demais para uma tarde de terça, parecia um quinta a noite, parecia outro tempo, exemplo de relatividade temporal.
Como te odiei nessa noite!
“Parto para Norte, não me sigas, não o podes fazer, vai para sul, não te preocupes, eu safo-me!”
Por quanto tempo?
Vejo agora que voltaste, a minha pergunta tem resposta, não mudaste um milímetro desde da última vez que enfrentaste o vento, imponente montanha de belas mentiras, fonte inconstante de amor, não, paixão, patética imitação do infinito, desvio temporário de planos inscritos a muito em pedras vulcânicas, antigas, longínquas.
Voltaste para ver o que criaste
“Sim”
Mas…?
“Alegra-te a verdade?”

segunda-feira, 24 de março de 2008

Ontem

As tuas orelhas espreitam entre o cabelo, rosadas, queridas. Queridas por mim. Minha primeira paixão deste novo ser. Éramos novos um para o outro, fantásticos, quentes, sangrentos. Como me morrestes, falso, acreditar nisso. Como me esqueceste, verdade, para ti nunca foi luz. Para ti nunca foi mais do que uns olhos de cachorro mal amado, não fui? Deixas-te me cair com jeitinho, nunca soubeste ser má, nunca me agrediste, nunca pudeste.
As minhas unhas negras assustam-te? Pelo menos, pelo menos isso, pelo menos que penses em mim, que penses no que eu penso.
Dizem-me que a compatibilidade é baixa, que nunca poderia ser. Dizem-me que o meu sentimento é retroactivo, que nesses dias nem sabia o que era o amor. Talvez o meu antigo ser não amava, assimilava, não tocava, destruía.
Mas tinha as minhas certezas distorcidas. Destruíste-as, pega, virgem, amada, paixão, como nenhuma outra. Volto-te a olhar agora nos olhos verdes, como os do demónio, pelo menos agora tenho coragem para isso, coisa nova para mim, cachorro mal amado, calor mal aproveitado.
Que tempo mal aproveitado, pensamentos supérfluos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Vida!

Vamos todos morrer, não vamos? E então porque não estamos a correr nus pelos campos entoando canções de amor e vida? Pelo menos as miúdas, digo eu, era tipo, bem, porreiro…
É que sabem, tenho uma aula de medicina em que aprendi, basicamente isto: 90% dos meus hábitos são cancerígenos, mortais, prejudiciais, e geralmente maus para mim.
Isso não é bom, quero viver, quero continuar aqui, viver. Quero continuar a amar a terra, a carne, a recorrência das duas, quero ver além do meu horizonte, vislumbrar mais beleza, saborear a sinestesia do mundo, ter um ataque da síndrome de Stendahal, quero te ver uma vez , outra e outra, ad infinitum, ad astra, ad qualquer coisa mais. Quero ver aquele cruzamento, aquela confluência de ruas, aquele canto e aquele campo. Quero te ver de novo com aquela camisola roxa cheia de borbotos, aquela de sempre. Quero voltar a ver Paris, Hamburgo, Gotemburgo e Beja. Quero ver nova vida, velha vida e rir-me da minha vida.
Quero tanto, porra, tanto, que até dói, uma dor boa, quente como sol de Março.
Vamos ficar mais um pouco por aqui, pode ser?

domingo, 9 de março de 2008

Sonho...

Ontem sonhei que tocava guitarra, sonhei que tocava o riff perfeito, ou quase, faltava qualquer coisa…
Uma voz recitava notas e tempos, entoações e intensidades.
Vi o som moldar o mundo, destruir as decadentes cidades dos homens com fogo e gelo, uma nota por cada pilar que implode, cataclismo em crescendo de paixão até que o mundo pare de girar. Entropia levada a extremos apocalípticos, coalescência do som, uma parede melódica impenetrável!
E depois o silêncio, nada, tudo é extinto e tudo é estático, ruído branco, tudo menos o meu coração, caixa de ritmos do Apocalipse.
Acordo.

segunda-feira, 3 de março de 2008

O que sempre quis...


Era uma daquelas noites, sabem? Que estás fodido, mas não admites. Pedem-te uma boleia, aceitas. O que mais podes dizer? És um gajo porreiro, não sabes ser de outra forma. Estas leve, bófia na borda da estrada, olha que te fodem! Concentra-te, é já ali, mais uma curva. Trabalho feito, sorrisos, amanhã a mais, certo?
Volto para casa, luzes fora, pela estrada fora, apagam-se.
Olá deixa que me apresente, sou um homem de posses e gosto…mas isto é demasiado cliché para ti, ce n'est pas?
Foda-se, curva mal dada, é tarde, sozinho na estrada…
Johnny?
Que merda é esta?
Posso ser o Depp, estou aqui para ti. A história é simples, já sabes, Fausto ou Robert Johnson, o merceeiro ou a Shakira, tenho o quero tendo o que querem…
Espetei-me ali atrás, isto não é real.
É real, é! Real como a Rainha de Inglaterra (bela pega que ela era na juventude…).
Mon enfant, dá-me a tua alma, e eu dou-te o que queres… C'est simple, non ?
Concorda com ele, concorda com ele!
Okay, o que eu quero é cona! Que se foda o poder, fama e dinheiro! Nunca mais quero estar sozinho! Amor, pêgas e o diabo, que bela perspectiva!
É tua, mon amor!
Puff, feito!
Acordo, período de sono conturbado, hum…sinto-me estranho…
Acho que hoje não vou as aulas, estou bem...
Moral deste conto, deixei de ser uma a partir do momento que tive uma…