segunda-feira, 26 de maio de 2008

Purga da Realidade

Mais uma purga, mais um início. Porra, mais uma ilusão desfeita pelo contacto com a realidade. O destino deve me ter confundido o meu amor à realidade com um desejo de conhecer a realidade.
Nada disso, no que toca à existência interpessoal, não quero realidades, quero criações, não quero provas, quero estórias, quero enlevo, quero, quero, quero, sei lá.
Mais uma mentira minha, mais uma lágrima caída por uma ilusão morta, mais um osculo negado a bom tempo.
Porque é que as ilusões são tão atractivas, sempre tão atractivas para mim. Bah, carte blanche para me agredir, mereço, claro que mereço.
Vou chorar para o duche, longe de tudo, água ensurdecedora cala os meus soluços.
Nada que uns headphones novos não curem.
Hey, it’s the end, my friend…ain’t it?

domingo, 18 de maio de 2008

Descida

Aveiro, temos um problema.

Estou num padrão de reentrada difícil.

Não estou em controlo dos thrusters frontais, estou a cair sem nenhum domínio em relação a velocidade de descida, o ângulo está completamente errado.

Aveiro!

Respondam!

Aveiro, estou sozinho, preciso de direcções, estou sem controlo.

As minhas leituras são erróneas, não consigo ver o sol, a minha bússola não pára e não consigo ter referências visuais!

Aveiro, respondam!

Aveiro!

(Sim, é pequeno, final de semestre é assim...)

domingo, 11 de maio de 2008

Um gato observa atentamente uma vela

Um gato observa atentamente uma vela, destilando nos seus olhos todas as possíveis cores que o olho do gato pode refractar. Mais que isto são só sombras geradas pelo movimento impaciente de uma chama que aparenta querer fugir para paragens mais quentes, talvez a sul de Punta-Caña. O gato olha, pensando em algo, não consigo destrinçar nada nos seus olhos, além dos óbvios reflexos da escuridão.
Olho para o tecto, perco-me em alguns pensamentos que mereciam, só por si, uma mini-inquisição de sábado à tarde. Com uma pequena fogueira a acompanhar. Neurónios debandam de tais pensamentos, anseiam por umas férias volumosas algures a norte do nada, em que um pouco de patavina ladeia com classe uma zona de absolutamente coisa nenhuma.
O chocalhar da chama criou uma imagem que pica a minha memória, uma ideia, não lhe consigo chegar com os dedos da minha mente, coçá-la, claramente está nas costas da minha psique. Fecho os olhos, agora a sério, volto daqui a 8 horas, fechado para liquidação de ideias.
Tenho que fazer, não quero ser um extra num filme do Romero.
Tenho que fechar os olhos.
Fecho os olhos, agora é definitivo.
Uma última interjeição, já sei o que marinava na mente do gato.
Uma forma discreta de sentar na minha cara.

domingo, 4 de maio de 2008

Neste Momento

Despia-te de todas as palavras pronunciadas antes, prenunciadas, sabes que elas são materiais de mais para este momento.
Percorria o teu corpo, o teu corpo com dedos estilísticos, sabes que o meu toque não é ao acaso.
Beijava-te as tuas ideias virgens, sabes que nada mais me saciaria neste momento. Acariciaria os teus conceitos despojados de presunções preemptivas, sabes que não existe outro caminho nestas terras.
Possuiria o que é teu, novo para mim, sabes que não me permito a outras acções.
E disto, deste momento, o que posso guardar?
Pouco posso levar comigo, pouco posso levar além das conclusões, argumentos e algumas falácias.
E tu?
Guardarás algo?
Mais alguma carta?
Mais desejos escrevinhados em locais impróprios para tal, em momentos inoportunos para mais.
Mais letras na minha pele, mais marcas na minha psique.
É isso que sobra?
Diz-me que isto é só o início!
Não quero ver o fim assim tão palpável, tão fácil de definir em palavras medíocres enquanto o tempo se esvai em preposições que nunca mais serão úteis.
E que tal procurarmos um sinónimo para isto?
Ouvi dizer que a vida é um bom thesaurus.