sábado, 21 de junho de 2008

Decadência

Só vejo decadência, ando pela rua, frontes deslapidadas, canos rotos, lojas que já não actualizam os stock desde 84. Velharias, pessoas cansadas, sei lá.
Será reflexo de mim, caminhei vezes de mais estas ruas para nunca ter reparado em tanta morte a rodear a minha pessoa.
É reflexo, é, sem dúvida a minha própria mente não o consegue esconder de mim. Sinto-me a decair, a graciosamente me desfazer em pó nestas ruas e não há fé que me salve. Nojo a estes pensamentos, isto é só passageiro, mas sabe a eterno, sabe a montanhas, sabe aos Urais, imóveis, longínquos como uma memória que eu nunca tive. Não sei o que me fez pensar nisto, eu sei que isto é perene, vejo o dia no calendário em que vai tudo acabar, mas não acredito em tal mini Apocalipse, tanto fogo que limpará a minha existência deste mapa em que nunca quis estar cartografado. Não queria mesmo, não devia estar nessa lista, numerado, fogo, não devia, a minha alma não o queria, proibiu me de o fazer, ameaçou deixar me. Desculpas rascas, decadentes com um prostituta num canto escuro, para esta escolha, em nome da segurança dizia eu.
Porra, deixa-te de dúvidas existencialistas, tens trabalho a fazer. Deixa-te de ter ideias, adquire o método, um método que seja, algo, organiza-te, cataloga as ideias num armário escondido numa cave obscura por agora.
Por favor, por agora não penses, por favor, por agora não penses nela, por favor, concentra-te, por favor, por agora, esquece-te de ti próprio, por agora, não sejas acção nem reflexão, sê execução. Sê vazio de desejo, coma emocional induzida por objectivos, vê se percebes, agora não é o momento para isto, tens a tua vida em cima de ti, pungente, não tentes fugir, vai doer mais se o fizeres, Atlas não pode fugir.
Mais um par de dias e podes matar a mansa besta de carga.
Mais um par de dias e podes ser o lobo.

domingo, 1 de junho de 2008

Uma Bela Tarde

Da última vez que passei lá por casa, para uma omelete e bacalhau é que reparei nas verrugas das pernas bolorentas.
Antecipei-me a tais pensamentos, procurei outros pormenores.
Talvez aquela marca no braço...
Notava-se ao longe uns bons períodos passados nos balneários frios de um clube barato de natação com mais uns poucos homosexuais.
Quer dizer abichanados.
Tolos, cheios de manias e chiliques, uns mitras coloridos.
Não tentou sequer esconder uma paixão gradual e criou um rap com influências funk, para assim lhe dar a conhecer o que era luxúria.
Teria ela esse poder?
Dominaria ela as artes do oriente?
Porventura chantilly e frutas cristalizadas no seu corpo.
Mas só aí me lembrei da alergia a produtos lácteos, mas não foi a tempo. Ao menos as pústulas tapavam-lhe a asquerosa narina esquerda que pingava ranhoca verde esmeralda.
Porque porra estaria ele ali?
Não estaria melhor perto da lareira?
O gato concordou, mas agarrei-lhe o rabo e mandei-o calar. Agora o bicho ter juízos...
Se não lhe coçasse a barriguinha de vez em quando, já tinha emigrado.
Viajado para Sul, tipo andorinha, neste caso um albatroz ou outro pássaro atroz!
Concentra-te, assado e com caril deve ser mesmo bom. Eh pá, tenho de comprar cotonetes, que os crocodilos começam a ficar impacientes lá no átrio.
A telepatia tornava-se lixada. De qualquer maneira, evitava-os, porque receava os meus pensamentos de sexo anal com bolachas maria.
Badalhoquices no meio de gelatina, ou talvez espargos com natas...
Ah, foi uma bela tarde!

(Este é um pequeno esforço colaborativo com a minha amiga Lianor, uma odezinha ao aleatório, um joguinho dedicado a imaginação.)