Só vejo decadência, ando pela rua, frontes deslapidadas, canos rotos, lojas que já não actualizam os stock desde 84. Velharias, pessoas cansadas, sei lá.Será reflexo de mim, caminhei vezes de mais estas ruas para nunca ter reparado em tanta morte a rodear a minha pessoa.
É reflexo, é, sem dúvida a minha própria mente não o consegue esconder de mim. Sinto-me a decair, a graciosamente me desfazer em pó nestas ruas e não há fé que me salve. Nojo a estes pensamentos, isto é só passageiro, mas sabe a eterno, sabe a montanhas, sabe aos Urais, imóveis, longínquos como uma memória que eu nunca tive. Não sei o que me fez pensar nisto, eu sei que isto é perene, vejo o dia no calendário em que vai tudo acabar, mas não acredito em tal mini Apocalipse, tanto fogo que limpará a minha existência deste mapa em que nunca quis estar cartografado. Não queria mesmo, não devia estar nessa lista, numerado, fogo, não devia, a minha alma não o queria, proibiu me de o fazer, ameaçou deixar me. Desculpas rascas, decadentes com um prostituta num canto escuro, para esta escolha, em nome da segurança dizia eu.
Porra, deixa-te de dúvidas existencialistas, tens trabalho a fazer. Deixa-te de ter ideias, adquire o método, um método que seja, algo, organiza-te, cataloga as ideias num armário escondido numa cave obscura por agora.
Por favor, por agora não penses, por favor, por agora não penses nela, por favor, concentra-te, por favor, por agora, esquece-te de ti próprio, por agora, não sejas acção nem reflexão, sê execução. Sê vazio de desejo, coma emocional induzida por objectivos, vê se percebes, agora não é o momento para isto, tens a tua vida em cima de ti, pungente, não tentes fugir, vai doer mais se o fizeres, Atlas não pode fugir.
Mais um par de dias e podes matar a mansa besta de carga.
Mais um par de dias e podes ser o lobo.
