segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Integridade Estrutural

Nanossegundo após nanossegundo, elevados a potências incompreensíveis a nós pela sua imensidão, passados a perpetuar gestos claramente repetitivos com uma intensidade compulsiva.
Sabes que quando não durmo o tempo é especialmente relativo, contigo duplamente. Tempo estranho, fazes-me perder o comboio do meu pensamento. Espero pelo próximo enquanto suprimo demónios da libido.
Digladio-me com eles, bullet time, acrobacias mentais, espadas conectam-se em combate quando sinapses semi-adormecidas disparam cataratas de informação. Venço, mas fica sempre um deles. São piores que os gremlins, e nem os preciso de alimentar depois da meia-noite, qualquer momento é suficiente.
Mas por agora estão controlados, normalidade restabelecida na linha direcção lado nenhum.
Posso continuar, agora sem medo. Ainda que veja um deles num canto escuro da minha mente, a olhar me com seus olhos vermelhos.
Fica para outro dia.
Hoje tenho mais que fazer.
Hoje tenho que manter a minha integridade estrutural.

domingo, 26 de outubro de 2008

Diatribe alcoolizada

Esta é outra diatribe alcoolizada, de como teríamos sido espectaculares noutra incarnação.
"Tu estás apaixonado com a própria ideia de estar apaixonado" disse a minha mente desesperadamente tentando pôr estas palavras de sabedoria na boca da minha paixão, sabendo antecipadamente que ela não satisfaria a minha necessidade do melodramático.
Seria esse o meu consolo, de que somos ambos perfeitos, mas não nesta vida, não agora...
"O agora revela a tua esperança", a mente replica.
Replica? Como odeio essa palavra, palavra standard de escritores sem caché criativo, tenta, por favor, tenta com mais força!
"Bebe mais um copo, agora de companhia, não a censures por beber sozinha"
Nunca a censurei por beber sozinha! Nunca, onde iria buscar moral para fazer tais coisas?
"Não admites que tentaste nesse momento o clássico manobra de Cristo, de quereres carregar a cruz dela? Não me podes mentir!"
Não posso ter um final feliz, um em que em esteja em posse de Luke Skywalker no poster no Return of The Jedi, salvando o universo conhecido?
"Sejamos realísticos!"
Quem disse que temos que ser realísticos, porque é que não me posso agarrar as minhas ilusões?
E desde quando falas com tanto requinte, preferia um merdoso abrasileirado "cai na real", soas demasiado pedante!
"Pedante! Eu sou o tua mente, sou tu, como me podes acusar de ser pedante!
Tu, arrogância sem fundo, cachorro sem dono, puto mal amado. O pedantismo intelectual é a tua cama, minha puta racionalista!"
Racionalista, tiveste fora da cidade por quanto tempo? A minha vida é o improviso de altares á terra, e ela será para sempre o meu primeiro altar á terra, o primeiro verdadeiro altar carnal, sangrento, belo, sem amarras lógicas.
"Mentiras racionalizadas, eu estive sempre aqui, sempre que ela partia, sempre que pensavas que ela podia não voltar, sempre que pensavas que ela era um mito desse suposto sono desfasado, sempre que abrias aquela porta, sempre que sentias aquele aroma era como aquele soco merecido de '97. Racionalizaste o fim, um fim antecipado, por pouco que não o racionalizaste por completo. Dou-te esse osso, cachorro, não racionalizaste por completo, voltaste a ela com o rabo por entre as tuas pernitas, enlameado em desespero narcisista!"
Não voltei a ela, não voltei como um cão, não voltei simplesmente.
Apenas fiz o que tinha que fazer, nunca tive jeito para fugir aos meus impulsos, os meus ameaços criativos são carne para canhão dessa ideia.
No mínimo, voltei a mim.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Gnomos Malévolos

Sinto que quando nasci me roubaram a alma, que uma força invisível, inefável levou-me a alma na calada da noite, a retalhou num altar à terra, tronco de carvalho de outros tempos.
Talvez tenham sido os gnomos de jardim…
Só agora é que percebi, é esse o meu objectivo, construir esse quebra-cabeças que é esta ordem no caos de vida que levo, encontrando dia-a-dia mais uma peça perdida num sorriso, numa voz, num cheiro, num toque e em momentos.
É uma oportunidade, vejo-a bem de perseguir esse gnomo, encontrar partes perdidas da minha alma, é uma maneira de construir.
Mas espera…
Já possuo os contornos, tenho uma ideia da forma, pequenos indícios da direcção.
Sinto uma sensação de dejá vu nestas visões, isto é mais antigo do que penso, talvez a demanda tenho começado noutro momento, e que todas as minhas racionalizações sejam um produto de uma consciência a pouco tempo desperta?
É que, sabes, as minhas memórias de criança são demasiadamente semelhantes as minhas memórias de embriaguez, não sei por quê, tem a mesma distância mental.
É como ver um filme em VHS demasiado gasto, uma K7 demasiadas vezes alugadas, aquele filme que toda a gente quer ver, mas ninguém admite ter verdadeiramente gostado. Pergunto-me por vezes, vezes de mais, o porquê disto. Infância ou álcool, os dois prometem nos tempos felizes, todos se divertem na TV, seja álcool ou uma promoção ao último Action Man.
Tenho medo que sejam sonhos mal recordados, sério que tenho, há demasiadas memórias assim, que a vergonha me impede de confirmar com fontes fidedignas.
Memórias de desgosto, desilusão ou simples insatisfação em relação a promessas não cumpridas.
Ninguém me disse, me avisou que recordar a minha própria vida seria assim tão difícil.
Irrelevante, o que interessa é o processo.
Irrelevante, a minha alma ainda anda a monte.
É que o meu karma veio em negativo, só pode ser isso, a demanda é ainda enorme. A destruição é motivo de progressão emocional, nada zen nos seus momentos maiores.
E ainda a alma foge.
E peças ainda são poucas.

domingo, 12 de outubro de 2008

Caminhos já vistos

Penetro caminhos já vistos.
A minha fome por ti leva-me a cometer indiscrições monumentais, de proporções épicas, tudo para alimentar a fome de brutalidade, carnalidade e loucura.
Não posso, não devo, não me permito a arrastar-te comigo, mas não me importo de ser arrastado por ti, só por ti, só tens que ignorar toda a razão.
Que tal começarmos de novo?
Nomes novos para acções já nomeados de forma sôfrega?
Eufemismos relegados em prole de destemperos imediatos, tão doces na memória.
Um jogo em que ninguém saia ferido, de preferência, pelo menos desta vez, pelo menos neste momento, podemos ainda reescrever o nosso caminho nestas ruas desoladas.
Ainda vamos a tempo?
Ainda sabemos como isto começou, qual foi o momento decisivo que nos fez cair em graça?
Duvido, mas não se perde nada em tentar, em reinventar impulsos de formas mais belas, sem mentir, sem lhes dar nomes comuns.
Palavras ora ditas cedo ou tarde demais, dolorosas quando nunca são ditas.
Não as espero ouvir da tua boca, apenas que as penses, o teu corpo fala por ti.
É só isso que preciso.
Palavras conheço muitas, loucura só a minha.
É só isso que preciso.
Um pouco da tua loucura.
Ainda que…
Alertas-me para a tua estranheza contida, parece que me avisas de uma ponte caída ao fundo da estrada, uma vereda, um penhasco que eu deveria temer.
Será impressão minha ou mais uma expressão tua?
O que eu vejo é o meu medo ou é o teu, verdade que não sei.
Verdade que te quero, mas tenho medo de te afastar no processo.
Ou talvez já o tenha feito.
Vejo o meu desejo amordaçado por racionalismos odiosos mais uma vez, ainda.

domingo, 5 de outubro de 2008

Noite de Lua Cheia

Noite de lua cheia, nem uma nuvem à vista e um céu com toques de sonho narcótico devidamente moderado.
Um gato negro esvai-se nas sombras, pouca luz transporta com ele. Pouco mais acontece à vista, excepto morcegos em voos rasantes, aparentemente ignorando o seu estilo retro-gótico.
O gato atravessa-se de novo no meu caminho. Bela sensação, dejá vu, por um momento julgo possível que exista algo mais no universo. Tento me agarrar a essa ideia sem metafísicas lamechas e comuns, seria fácil de mais, tento o caminho mais difícil, inserir-me no plano cósmico.
Associar estrelas a ideias, forma experimentada de preservar ideias, associar constelações a locais, planetas a pessoas.
Os teus antepassados já o fizeram vezes sem conta, em língua diversas, nomes numerosos como as estrelas nomeadas.
Soa fácil, não soa?
Podia ser, mas não é boa ideia perturbar cães que arrastam as suas correntes.
Podia ser, mas não é boa ideia enquanto tu próprio arrastas corroídas correntes.
O gato aparece uma terceira vez, fico optimista, quase que já não sinto as correntes e este não é local para ser urbano-depressivo. É um local para deambular pelas orlas de bosques, gritando epítetos em línguas malditas, deliciosamente sozinho e alienígena a este local.
E o que poderia pedir mais?
É a escuridão onde me encontro.
O que poderia ver mais?
É um local para encontrar o nada esbatido no tudo.
O que poderia pedir mais sendo um pedinte de beleza?

domingo, 28 de setembro de 2008

Extinção Prematura


Por vezes alterco-me com questões importantes, questões nascidas da mente de um sofredor de insónias, são horas passadas em divisões disformes reflectindo acerca, por exemplo, da razão porque todos os animais com estilo estão extintos. É uma questão saudável de se considerar, soa a uma piada surrealista, porque é que toda a fauna exótica a sério bateu as botas. Será uma questão cultural, e por isso exótica, por estar extinta e assim fora do nosso alcance?
Não me parece!
Onde é que estão as galinhas gigantes?
E os lobos marsupiais?
E até os dodós são mais interessantes que um ganso aleatório.
Parece que estamos a viver num universo saído da mente de um Deus com inclinações de funcionário de repartição pública e um sentido de humor duvidoso.
“Galinhas! Que sejam pequenas, portáteis e gostem de milho! E boas no churrasco, já agora, para compensar os vírus que criei na terça-feira.”
Um pouco insosso, não acham?
Há quem sinta saudades de Salazar, eu sinto saudades do T-Rex.
Um certo fascínio pelo que se perdeu.
Pelo que nunca vou ver em primeira-mão, pelo que nunca vou poder apreciar nem sequer em segunda-mão.
E que se lixem os gansos.

domingo, 21 de setembro de 2008

Tudo o que me adormeça de ti


Tudo o que me adormeça de ti, tudo o que me faça esquecer a tua pele.
Queria aprender os teus ritmos, as tuas marés, os teus inventos, os teus padrões de pensamento e os teus processos de criativos.
Aprendi algo, aprendi que nunca estou verdadeiramente livre, que estou sempre pronto a ser aprisionado, magnetizado, enleado numa teia de novidades estonteantes, de pequenas ovelhas como nuvens e gnomos viajantes.
Quero estar narcotizado até voltares, carnalmente, em explosões cabaré-punk.
Tudo o que me adormeça de ti, tudo o que me faça esquecer a tua pele.
Mas tu não voltas, pois não?
Porque isto só foi um momento.
Porque isto foi uma tentação.
Porque isto não podia ser mais.
Porque isto não podia ser mais agora.
Porque.
Porquê?
Não guardo qualquer remorso, nenhuma dor maior, nenhum ódio vermelho.
Queria que me vendesses a tua alma, mas fui cego, esqueci-me que a amava livre, que era isso, a tua liberdade, o que me mantinha atento, pronto a ouvir, em transe nas tuas palavras.
Não quero a tua alma, pelo menos agora, apenas quero reflexos dela e um pouco do teu desassossego.
Tudo o que me adormeça de ti, tudo o que me faça esquecer a tua pele.
Mesmo que tenhas quebrado o meu Japa Mala, mesmo derrubando o meu arcano carvalho, mesmo interrompendo o meu mantra, mesmo assim não vejo em ti pecado.
Em fim, pensamentos, no meio disto só me arrependo de não te ter beijado uma última vez.
Minto.
Isso seria demasiado final.
E não consigo esquecer a tua pele.
E o sono não voltará.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Dualismos

Repara, a minha natureza é de uma dualidade peculiar, brutalidade e carinho desfasados por minutos simbólicos que nunca consegui bem compreender.
Uma besta criadora, um escritor, por vezes sem polegares oponíveis, rabiscando mundos de forma crua, observando calado, para sempre naquele banco de cimento sujo de outrora.
Preciso de musas, sem pudor digo que sim, sem vergonha digo que preciso de viver para escrever e tu és ainda uma página branca de mais, uma página que preciso de rabiscar e ler, pintalgar com crípticas ideias que nunca serão mais que ideias, que nunca serão mais porque todos temos que pagar uma portagens de sangue e suor neste mundo, burocracia emocional, medos de tempos passados como carimbos num passaporte.
Por vezes contemplo o suicídio social, para poder apagá-los, mudar de nome, de cidade, de vida, talvez algures para norte, para um sitio mais frio que este, longe de verões demasiado compridos. Nunca seria o suficiente.
Assim, ainda assim, abordo de forma pueril, inocente o mundo a minha volta, abordo-o com uma força, com um ímpeto, como se fosse um miúdo, como se tudo fosse novo.
A minha força de vontade roça a loucura por vezes, insensatez pura, impulsos mal comedidos, mas é assim que me sinto feliz, completo.
Não devia precisar de musas, consumem-me sempre, não devia porque as minhas musas são sempre decadentes, coisas do passado, de conjugação em pretérito (muito pouco) perfeito.
Gostava de pensar que és diferente, mas o universo dá-me sempre cartas do mesmo baralho, a exacta mesma mão de sempre.
E o meu mundo interior é sempre tão vasto, não devia por a minha alma nas mãos de outros seres humanos, tão integralmente, tão fatidicamente.
No entanto, preciso de te descobrir.
No entretanto, preciso de te sentir.
Preciso de saber o que és.
Por mais que possa doer.
Calma!
Digere.
Racionaliza.
Por força da lógica distorce verdades perdidas entre frases sem sentido, comete erros, mas comete algo, comete-te a algo.
Ordo ad Chao
Ordo ab Chao

domingo, 7 de setembro de 2008

LIberdade

Para ti, liberdade
Amo-te nos teus momentos plácidos, no cheiro de papel velho, no embate mental, na clareza da lógica e nas perdas de sanidade temporárias, intensas e sonoras.
Ouço os teus suspiros, ideias e gritos, sabem-me ao mesmo, no prazer e na dor, marcados e dissonantes, sabem-me a vida, a violência.
Sem ânsias, contemplando furacões, livres de preconceitos destroem carvalhos centenários como quem esmigalha egos de colegiais novas de mais para perceber verdades experimentadas, destruindo casas, buracos desses artísticos macacos como se fossem pequenos lápis, roídos e enfraquecidos por horas de escrita sem sentido.
Amo-te liberdade, todas as tuas faces, representações, pictogramas desgastados e limpas ilustrações estilizadas, para os meus olhos são o mesmo. Do meu ego quero que uses todo, não me leves nada, abusa de mim, estas dores não existem, estes turbilhões são para ser admirados, nunca me poderiam magoar, engrandecem-me, enlouquecem-me, fazem me esquecer de mim, vivo como poucas vezes.
Não te peço mais, só quero partilhar contigo o caos.
Liberdade e caos, amantes intangíveis, admiro-vos em todos este processo de decadência planeada.
Quero-te a ti, tudo o que o tempo permita, tudo o que o amontoado de células e conceitos a que chamo Eu o permita. Todo o que o tempo me permita dar, tudo o que o tempo não arrastar nas suas águas, tudo o que poder colocar em palavras e movimentos.
Posso cantar muito bem canções doutros dias negros, posso articular palavras usadas em momentos pedantes. Posso criar, mas não me posso deixar aprisionar. Não me posso deixar ficar por esses corredores de palavras que inspiram nas massas segurança, sabes que todas não valem o oxigénio gasto para as expirar, por mais bela que seja a boca que as possa proferir.
Tenho que escolher-me a mim, a minha verdade, as minhas paixões internas, sabes que essas nunca me abandonaram, essas nunca me deixarão enquanto as sinapses do meu cérebro ainda dispararem.
E lembra-te, nunca serei totalmente teu.
Nunca serei mais do que eu.

domingo, 20 de julho de 2008

Insólitas Colisões Nucleares

Este espaço é confinante e quase que sinto o tempo a solidificar a minha volta, como lodo, como tundra. Sinto-me redundante nesta sala, claustrofobia desmesurada em tempo e espaço. Não me sinto a mover, a ter direcção em pensamentos ou em movimentos.
Estagno se não sentir os cães no meu encalço, desafiam-me…
Não, espera, desafio-me, tenho que puxar os meus próprios cordões.
Tudo tem que ser feito de dentro para fora, pouco há do que depender lá fora.
O exterior nunca será mais real do que a publicidade que vês na TV, opiniões facciosas disfarçadas de factos por comentadores com agendas gordas e bagagens demasiado cheias.
Nada acontece que me demova desta linha de pensamento, os passos do tempo são demasiadamente lentos. As cordas da existência estão demasiadamente soltas e a sua vibração quase que não produz som no vácuo de interesse que é este momento.
Não vejo realidades que se consigam cruzar com a minha, não vejo os pontos de contacto, paralelismos que valha a pena explorar e porventura uma tempestade de partículas na qual entrar.
Horas de desespero substituídas por horas de indulgência meditativa, contemplativa, aborrecimento sem fim, todos os corpos que me rodeiam não são suficientemente gravíticos para me atrair, para trair a minha calma.
Gritos amotinam o momento, isto é novo, parece-me um bom momento para observar.
Sentada pouco segura, botas de outras modas, cara balançante entre a seriedade e algo que precisaria de uma vida para perceber.
Palavras baixam, atingem a barreira do som e desaparecem.
A minha mente pôs-se em fuga perante as possibilidades desta visão, é uma espécie de alimento, interlúdio do que seriam horas deixadas vagas por ideias concluídas e emancipadas.
Que foi isto?
É a pitoresca causalidade da passagem do tempo em insólitas colisões nucleares.
São preparações fundamentais em concílios de anciões sábios. A exploração da sua alma apresenta perguntas pertinentes a um observador leigo, um conhecedor acautelado dispensa pensamentos excedentes, remanescentes, que atrasam eventuais descobertas.
Um conhecedor acautelado apenas observa.
Um observador acautelado não se deixa confundir por visões dualísticas.
Eu, blasfémia cientifica!
Eu não tinha os conhecimentos para controlar tal força, tal força da natureza, tal instinto em mim, animal. Dinamismo explosivo, supernova de tonalidades avermelhadas, obscuras em velhos céus majestosos, novas impressões forjadas perante caminhos abruptos no seu aparecimento.
Puxamos-nos um ao outro por essas ruas tão velhas, sobre os nossos pés decisões anteriores, paixões novas, tentações não ignoradas e sôfregas vindas a superfície em busca de oxigénio alienado do mundo, colidindo com incautas paredes em momentos de surpresa em estado bruto. Suspiro um pequeno eureka, uma subtil descoberta, uma pequena surpresa nas minhas mãos, não te moves segundo as leis da física newtoniana, és algo fora desse enquadramento corpóreo.
E aqui nascem novas ideias, continuadas depois deste breve intervalo para publicidade em sonhos de um sono desfasado.

sábado, 21 de junho de 2008

Decadência

Só vejo decadência, ando pela rua, frontes deslapidadas, canos rotos, lojas que já não actualizam os stock desde 84. Velharias, pessoas cansadas, sei lá.
Será reflexo de mim, caminhei vezes de mais estas ruas para nunca ter reparado em tanta morte a rodear a minha pessoa.
É reflexo, é, sem dúvida a minha própria mente não o consegue esconder de mim. Sinto-me a decair, a graciosamente me desfazer em pó nestas ruas e não há fé que me salve. Nojo a estes pensamentos, isto é só passageiro, mas sabe a eterno, sabe a montanhas, sabe aos Urais, imóveis, longínquos como uma memória que eu nunca tive. Não sei o que me fez pensar nisto, eu sei que isto é perene, vejo o dia no calendário em que vai tudo acabar, mas não acredito em tal mini Apocalipse, tanto fogo que limpará a minha existência deste mapa em que nunca quis estar cartografado. Não queria mesmo, não devia estar nessa lista, numerado, fogo, não devia, a minha alma não o queria, proibiu me de o fazer, ameaçou deixar me. Desculpas rascas, decadentes com um prostituta num canto escuro, para esta escolha, em nome da segurança dizia eu.
Porra, deixa-te de dúvidas existencialistas, tens trabalho a fazer. Deixa-te de ter ideias, adquire o método, um método que seja, algo, organiza-te, cataloga as ideias num armário escondido numa cave obscura por agora.
Por favor, por agora não penses, por favor, por agora não penses nela, por favor, concentra-te, por favor, por agora, esquece-te de ti próprio, por agora, não sejas acção nem reflexão, sê execução. Sê vazio de desejo, coma emocional induzida por objectivos, vê se percebes, agora não é o momento para isto, tens a tua vida em cima de ti, pungente, não tentes fugir, vai doer mais se o fizeres, Atlas não pode fugir.
Mais um par de dias e podes matar a mansa besta de carga.
Mais um par de dias e podes ser o lobo.

domingo, 1 de junho de 2008

Uma Bela Tarde

Da última vez que passei lá por casa, para uma omelete e bacalhau é que reparei nas verrugas das pernas bolorentas.
Antecipei-me a tais pensamentos, procurei outros pormenores.
Talvez aquela marca no braço...
Notava-se ao longe uns bons períodos passados nos balneários frios de um clube barato de natação com mais uns poucos homosexuais.
Quer dizer abichanados.
Tolos, cheios de manias e chiliques, uns mitras coloridos.
Não tentou sequer esconder uma paixão gradual e criou um rap com influências funk, para assim lhe dar a conhecer o que era luxúria.
Teria ela esse poder?
Dominaria ela as artes do oriente?
Porventura chantilly e frutas cristalizadas no seu corpo.
Mas só aí me lembrei da alergia a produtos lácteos, mas não foi a tempo. Ao menos as pústulas tapavam-lhe a asquerosa narina esquerda que pingava ranhoca verde esmeralda.
Porque porra estaria ele ali?
Não estaria melhor perto da lareira?
O gato concordou, mas agarrei-lhe o rabo e mandei-o calar. Agora o bicho ter juízos...
Se não lhe coçasse a barriguinha de vez em quando, já tinha emigrado.
Viajado para Sul, tipo andorinha, neste caso um albatroz ou outro pássaro atroz!
Concentra-te, assado e com caril deve ser mesmo bom. Eh pá, tenho de comprar cotonetes, que os crocodilos começam a ficar impacientes lá no átrio.
A telepatia tornava-se lixada. De qualquer maneira, evitava-os, porque receava os meus pensamentos de sexo anal com bolachas maria.
Badalhoquices no meio de gelatina, ou talvez espargos com natas...
Ah, foi uma bela tarde!

(Este é um pequeno esforço colaborativo com a minha amiga Lianor, uma odezinha ao aleatório, um joguinho dedicado a imaginação.)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Purga da Realidade

Mais uma purga, mais um início. Porra, mais uma ilusão desfeita pelo contacto com a realidade. O destino deve me ter confundido o meu amor à realidade com um desejo de conhecer a realidade.
Nada disso, no que toca à existência interpessoal, não quero realidades, quero criações, não quero provas, quero estórias, quero enlevo, quero, quero, quero, sei lá.
Mais uma mentira minha, mais uma lágrima caída por uma ilusão morta, mais um osculo negado a bom tempo.
Porque é que as ilusões são tão atractivas, sempre tão atractivas para mim. Bah, carte blanche para me agredir, mereço, claro que mereço.
Vou chorar para o duche, longe de tudo, água ensurdecedora cala os meus soluços.
Nada que uns headphones novos não curem.
Hey, it’s the end, my friend…ain’t it?

domingo, 18 de maio de 2008

Descida

Aveiro, temos um problema.

Estou num padrão de reentrada difícil.

Não estou em controlo dos thrusters frontais, estou a cair sem nenhum domínio em relação a velocidade de descida, o ângulo está completamente errado.

Aveiro!

Respondam!

Aveiro, estou sozinho, preciso de direcções, estou sem controlo.

As minhas leituras são erróneas, não consigo ver o sol, a minha bússola não pára e não consigo ter referências visuais!

Aveiro, respondam!

Aveiro!

(Sim, é pequeno, final de semestre é assim...)

domingo, 11 de maio de 2008

Um gato observa atentamente uma vela

Um gato observa atentamente uma vela, destilando nos seus olhos todas as possíveis cores que o olho do gato pode refractar. Mais que isto são só sombras geradas pelo movimento impaciente de uma chama que aparenta querer fugir para paragens mais quentes, talvez a sul de Punta-Caña. O gato olha, pensando em algo, não consigo destrinçar nada nos seus olhos, além dos óbvios reflexos da escuridão.
Olho para o tecto, perco-me em alguns pensamentos que mereciam, só por si, uma mini-inquisição de sábado à tarde. Com uma pequena fogueira a acompanhar. Neurónios debandam de tais pensamentos, anseiam por umas férias volumosas algures a norte do nada, em que um pouco de patavina ladeia com classe uma zona de absolutamente coisa nenhuma.
O chocalhar da chama criou uma imagem que pica a minha memória, uma ideia, não lhe consigo chegar com os dedos da minha mente, coçá-la, claramente está nas costas da minha psique. Fecho os olhos, agora a sério, volto daqui a 8 horas, fechado para liquidação de ideias.
Tenho que fazer, não quero ser um extra num filme do Romero.
Tenho que fechar os olhos.
Fecho os olhos, agora é definitivo.
Uma última interjeição, já sei o que marinava na mente do gato.
Uma forma discreta de sentar na minha cara.

domingo, 4 de maio de 2008

Neste Momento

Despia-te de todas as palavras pronunciadas antes, prenunciadas, sabes que elas são materiais de mais para este momento.
Percorria o teu corpo, o teu corpo com dedos estilísticos, sabes que o meu toque não é ao acaso.
Beijava-te as tuas ideias virgens, sabes que nada mais me saciaria neste momento. Acariciaria os teus conceitos despojados de presunções preemptivas, sabes que não existe outro caminho nestas terras.
Possuiria o que é teu, novo para mim, sabes que não me permito a outras acções.
E disto, deste momento, o que posso guardar?
Pouco posso levar comigo, pouco posso levar além das conclusões, argumentos e algumas falácias.
E tu?
Guardarás algo?
Mais alguma carta?
Mais desejos escrevinhados em locais impróprios para tal, em momentos inoportunos para mais.
Mais letras na minha pele, mais marcas na minha psique.
É isso que sobra?
Diz-me que isto é só o início!
Não quero ver o fim assim tão palpável, tão fácil de definir em palavras medíocres enquanto o tempo se esvai em preposições que nunca mais serão úteis.
E que tal procurarmos um sinónimo para isto?
Ouvi dizer que a vida é um bom thesaurus.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

É assim

É assim, tenho uma imaginação muito activa, vejo tudo e vejo mais, crio complexas redes de sentidos, desfaço-as e entrelaço-as na esperança de auto-saciar, autopsiar mentalmente ideias que ainda esperneiam, alimentar-me como uma planta na sua fotossíntese, da luz do que vejo, do minério das conjecturas e da água que ainda não me banhou, das coisas que ainda não me tocaram. Tudo, caoticamente é para ser destrinçado, descarnado, sovado e espancando para a maior glória da minha imaginação. Espera, não sou como ele, não estou obcecado pela morte, não me interessa o que está para lá do véu, sabes que sim, compreende e não te enganes pelos rumores da minha guerra interior, são blasfémias crípticas contra um obcecado da vida! Não te rias, não estou a fugir da questão, é essa a questão, amo a viagem, nunca me interessa muito onde vou, quero ver o cenário e quiçá desviar o transporte, ameaçar o maquinista com uma faca com um cabo de marfim, interferir na realidade e destruir mentes no entretanto, roubar vasos de varandas e gatinhos de cestas alheias enquanto posso.
Para isso tenho que enfrentar a morte, a escuridão, os podres que atormentam a humanidade. Não me parece uma contradição! Que minimalismo intelectual! Causa e efeito, psicologia de pacotilha, se calhar não me deram abraços suficientes em miúdo, ora, obrigado Dr. Phil! Lá porque me visto de preto tenho que pertencer a um culto, lá porque estou de preto é obvio, claro e mais que certo que estou de luto, porra! És de ideias fixas, meu cabrão, ideologias mortas, convencionais e que já cheiram mal!
Ah, mais uma coisa! O cheeseburger é para levar? Hum hum…
São 13,37 €, faz favor.
Volte sempre!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Antiguidades


Amor?
Um homem gasto, alimentado pela memória do beijo que ela, jovem exuberante, lhe partilhara.
Razão:
Mais vale a pena experimentar, se não nunca saberei o sabor…
É esse o fim desta estória, o princípio de outra, o meio é a força quinética louca de um beijo criando um novo rumo para um vida em constante estagnação.
O principio? Ah, sim o principio!
Algures por entre o frio de Janeiro e o acalentar de Março, sozinho mas de companhia, estava consigo mesmo, com a cerveja num dos bares do costume por entre amigos dispensáveis como chocolate quente numa noite de Inverno, percebes?
Discutia-se um pouco de tudo, quiche, aitolahas, música celeste e energia geotérmica em São Félix da Marinha.
E então entrou ela, entrou naquela sala, aquela sala outrora mais fumarenta, maravilhas do mundo moderno, e irremediavelmente na vida dele, um lapso ocasional do destino, roda ruída na engrenagem da maquinaria cósmica.
Por falar nisso, alguém tem um cigarro que eu possa cravar?
Hummm…
Continuando, ele sentiu essa perturbação no ambiente, virou-se instintivamente, no ar “The Birth of Cool” do mestre Miles, ela pálida, ruiva, enevoada, pernas de Moulain Rouge numas calças causais. Virava cabeças observadoras, percebem?
Do género que falhas um gole do teu whiskey-cola, se é que percebes a minha onda...
Ela acende um charuto, Havanero, se não me falha o senso do olfacto.
Mentes tombam na sua presença, mas não a mente dele, sobrancelha erguida, sobrolho em posição extrema e quiçá uma ligeira atracção, talvez maior se não fosse agora o fumo que a envolvia. Um olhar cruzado pelo acaso de uma mão erguida na busca da satisfação. Silêncio mental, ambos, uma cadeira livre, uma oportunidade que ela não despreza, será que está perdida?
É uma surpresa para ele, não pelo acto mas por ela, ela, ela é algo mais…
“Sabias que existem casos de tubarões fêmeas que deram à luz sem interacção sexual?”
Que porra de pergunta era aquela?
Uma linha de engate?
Piada onanista?
É por ele estar sozinho?
“Sabia, sabia, disse-me o Sir Richard Atenborough”
Sarcástico no tom, no entanto mostrando algumas abertas.
Conversa evolui, mentes ligadas na iluminação e disparate, emoção e lógica enquanto o tempo passa sem atenção as chamadas de cortina dos empregados, luzes fortes, mesas arrumadas e esfregão no chão.
“É a minha última noite aqui”
Final fatídico, um pouco dele morreu nesse momento, depois de tanto tempo, depois de tanta solidão, alguém com quem cruzar espadas mentais, ela de lábios brilhantes
E ela beijou-o
A sério, beijou-o ali como se fosse o Ragnarok e ele fosse a ultima fogueira. Chocado e impressionado, retribuindo a intensidade, uma explosão tão não característica dele, deixado então com um adeus até sempre ou até um dia, o que vier primeiro…
Razão:
Mais vale a pena experimentar, se não nunca saberei o sabor…
Uma razão louvável, noutras circunstâncias, mas a falta de constância perturba-o, ele é um homem de hábitos, impulsão ao mínimo, lógica em overdrive, overkill de lógica. No entanto, não foi só ela que retirou um sabor daquele beijo, ele sentiu por um momento o sabor da loucura, do improviso, o bebop emocional que a vida pode guardar.
E ele ainda caminha por estes corredores, por ventura mais feliz agora, essa noite foi importante, abriu portas, mas essa é outra estória…

domingo, 13 de abril de 2008

Ironia


A ironia deste dia era nem ser nada irónico. Furo à primeira cadeira, von voyage, bênção dos céus e a minha cama agradece.
Segunda aula, pináculo da sorte, nada para entregar, trabalho de grupo, discussão e discordar por discordar, porque sim, se não onde estaria a piada?
Sério, onde?
Almoço fortuito, visão do futuro em excesso.
Ideias, ideias e ideias…
Parece uma música dos Pixies e o riso, o riso, pá, o riso parece uma pomba a cumprimentar o dia.
Fascina-me, a cor a criar padrões, sabes, o meu guarda-fatos é tão intoleravelmente negro, por vezes, uma vez a mais do que devia.
Gosto do preto, a sério, mas essas cores são inusitadas, não queria usar esta palavra, são porreiras, é isso, é tipo o chakra da base da espinha a tilintar, vibrar e quase a ondular. Faz te lembrar alguma daquela sensação de novidade de outros tempos, intersecção de tempos paralelos num momento, de facto, roxo indistinto. Inicio, já, ali, perversão em modo cruzeiro, o entusiasmo algo subjugado a uma sobrecarga sensorial. River Euphrates, era isso, deve ser pelas variações cromáticas da guitarra…
Voz talvez?
Vejo uma orelha cheia de furos assimétricos bem engraçados, numero impar de furos, gosto disso pela manhã disse me alguém, gosto do som ao vento de Aveiro numa hora matinal, aquele zumbido agudo metálico que te acorda ainda que a tua passividade perante o falso reboliço de cidade pouco povoada.
Não que tenho muito noção de números, de quantos eram, os furos, perdi todo o tipo de noções quando os Pixies me disseram olá.

domingo, 6 de abril de 2008

Palavras Ambíguas

Acho que me cansei de palavras ambíguas, de dar um passo atrás para dar um passo a frente. Estou farto de pensar, repensar e voltar a pensar em cada passo. De matutar na hipóteses e possibilidades, de só dizer as palavras seguras, de nunca sair do meu léxico de palavras multi-significantes, garantidas no não compromisso.
Preciso que me ensines novas palavras, impulsividade como modo, estilo e ímpeto de vida.
Mais vale fazer uma loucura do que enlouquecer sobre o peso da normalidade, certo?
Mais vale tentar e falhar do que ficar por aí olhando para o nada omnioso, esperando por algo que nunca virá, debaixo de um sol indiferente.
Queria sair deste circulo.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Luz


7 anos depois, tudo continua na mesma…
“Luz, muita luz, escondida por trás desse manto negro”
Palavras marteladas amargas, elogio fingido, doce que ficou à chuva tempo de mais num mundo que não perdoa indecisão.
Julgava-te morta, pensava em ti como uma personagem de uma estória demasiado floreada, demasiado melodramática, era mais fácil ficcionar o passado.
7 dias, 7 meses e 7 anos depois da queda…
Depois que partimos, sem destino, para não voltar, para ir para algures repleto de luz ou, quiçá, apenas de caras novas.
Como te amei nessa tarde, uma última vez que nunca me denunciou o fim, fogo demais para uma tarde de terça, parecia um quinta a noite, parecia outro tempo, exemplo de relatividade temporal.
Como te odiei nessa noite!
“Parto para Norte, não me sigas, não o podes fazer, vai para sul, não te preocupes, eu safo-me!”
Por quanto tempo?
Vejo agora que voltaste, a minha pergunta tem resposta, não mudaste um milímetro desde da última vez que enfrentaste o vento, imponente montanha de belas mentiras, fonte inconstante de amor, não, paixão, patética imitação do infinito, desvio temporário de planos inscritos a muito em pedras vulcânicas, antigas, longínquas.
Voltaste para ver o que criaste
“Sim”
Mas…?
“Alegra-te a verdade?”

segunda-feira, 24 de março de 2008

Ontem

As tuas orelhas espreitam entre o cabelo, rosadas, queridas. Queridas por mim. Minha primeira paixão deste novo ser. Éramos novos um para o outro, fantásticos, quentes, sangrentos. Como me morrestes, falso, acreditar nisso. Como me esqueceste, verdade, para ti nunca foi luz. Para ti nunca foi mais do que uns olhos de cachorro mal amado, não fui? Deixas-te me cair com jeitinho, nunca soubeste ser má, nunca me agrediste, nunca pudeste.
As minhas unhas negras assustam-te? Pelo menos, pelo menos isso, pelo menos que penses em mim, que penses no que eu penso.
Dizem-me que a compatibilidade é baixa, que nunca poderia ser. Dizem-me que o meu sentimento é retroactivo, que nesses dias nem sabia o que era o amor. Talvez o meu antigo ser não amava, assimilava, não tocava, destruía.
Mas tinha as minhas certezas distorcidas. Destruíste-as, pega, virgem, amada, paixão, como nenhuma outra. Volto-te a olhar agora nos olhos verdes, como os do demónio, pelo menos agora tenho coragem para isso, coisa nova para mim, cachorro mal amado, calor mal aproveitado.
Que tempo mal aproveitado, pensamentos supérfluos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Vida!

Vamos todos morrer, não vamos? E então porque não estamos a correr nus pelos campos entoando canções de amor e vida? Pelo menos as miúdas, digo eu, era tipo, bem, porreiro…
É que sabem, tenho uma aula de medicina em que aprendi, basicamente isto: 90% dos meus hábitos são cancerígenos, mortais, prejudiciais, e geralmente maus para mim.
Isso não é bom, quero viver, quero continuar aqui, viver. Quero continuar a amar a terra, a carne, a recorrência das duas, quero ver além do meu horizonte, vislumbrar mais beleza, saborear a sinestesia do mundo, ter um ataque da síndrome de Stendahal, quero te ver uma vez , outra e outra, ad infinitum, ad astra, ad qualquer coisa mais. Quero ver aquele cruzamento, aquela confluência de ruas, aquele canto e aquele campo. Quero te ver de novo com aquela camisola roxa cheia de borbotos, aquela de sempre. Quero voltar a ver Paris, Hamburgo, Gotemburgo e Beja. Quero ver nova vida, velha vida e rir-me da minha vida.
Quero tanto, porra, tanto, que até dói, uma dor boa, quente como sol de Março.
Vamos ficar mais um pouco por aqui, pode ser?

domingo, 9 de março de 2008

Sonho...

Ontem sonhei que tocava guitarra, sonhei que tocava o riff perfeito, ou quase, faltava qualquer coisa…
Uma voz recitava notas e tempos, entoações e intensidades.
Vi o som moldar o mundo, destruir as decadentes cidades dos homens com fogo e gelo, uma nota por cada pilar que implode, cataclismo em crescendo de paixão até que o mundo pare de girar. Entropia levada a extremos apocalípticos, coalescência do som, uma parede melódica impenetrável!
E depois o silêncio, nada, tudo é extinto e tudo é estático, ruído branco, tudo menos o meu coração, caixa de ritmos do Apocalipse.
Acordo.

segunda-feira, 3 de março de 2008

O que sempre quis...


Era uma daquelas noites, sabem? Que estás fodido, mas não admites. Pedem-te uma boleia, aceitas. O que mais podes dizer? És um gajo porreiro, não sabes ser de outra forma. Estas leve, bófia na borda da estrada, olha que te fodem! Concentra-te, é já ali, mais uma curva. Trabalho feito, sorrisos, amanhã a mais, certo?
Volto para casa, luzes fora, pela estrada fora, apagam-se.
Olá deixa que me apresente, sou um homem de posses e gosto…mas isto é demasiado cliché para ti, ce n'est pas?
Foda-se, curva mal dada, é tarde, sozinho na estrada…
Johnny?
Que merda é esta?
Posso ser o Depp, estou aqui para ti. A história é simples, já sabes, Fausto ou Robert Johnson, o merceeiro ou a Shakira, tenho o quero tendo o que querem…
Espetei-me ali atrás, isto não é real.
É real, é! Real como a Rainha de Inglaterra (bela pega que ela era na juventude…).
Mon enfant, dá-me a tua alma, e eu dou-te o que queres… C'est simple, non ?
Concorda com ele, concorda com ele!
Okay, o que eu quero é cona! Que se foda o poder, fama e dinheiro! Nunca mais quero estar sozinho! Amor, pêgas e o diabo, que bela perspectiva!
É tua, mon amor!
Puff, feito!
Acordo, período de sono conturbado, hum…sinto-me estranho…
Acho que hoje não vou as aulas, estou bem...
Moral deste conto, deixei de ser uma a partir do momento que tive uma…

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Uma tarde qualquer...

Niilismo divertido, porta para uma existência profunda, esquecer pormenores e pontos de apoio na moralidade, sociedade produtiva destruída pelo espírito livre, estar na relva procurando o sentido da vida, 43 minutos que nos restam até ao fim do mundo e nós discutimos a força de uma frase sem sentido.
Por entre fés perdidas e dúvidas eternas descobrimos o sentido do respeito e da vida. Por entre discussões revelamos medos e procuramos por mais...
Sabes que o meu medo é distante do teu, temo a loucura e o afastamento da realidade e no entanto, sabes, no entanto executo longas caricias a ambas como quem acaricia uma pitão.
Sabes disso, não há mal que não concorde contigo!
Não me peças para respeitar um livro, não te justifiques compulsivamente, respeito-te a ti, figura física perante mim, conquistastes o respeito e isso é o mais que posso fazer por ti.
Não me peças para respeitar algo que não me possa olhar nos olhos, respirar e beber um copo comigo…
Isso e a majestade do céu nocturno, isso posso respeitar.
Nada mais, nada intrinsecamente, nada a priori, não trabalho assim.
Podes pedir-me a minha bondade, dar-te-ei a medida apropriada.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Sangue


Não espero que louves a minha moral duvidosa, que compreendes a minha realidade relativa.
Esta era a única decisão possível, o único caminho aberto num deserto ético pleno de ravinas mal assinaladas.
Tive que te destruir nesta madrugada…
O teu sangue e as minhas lágrimas, as tuas lágrimas e o meu sangue, misturam-se com o nevoeiro de uma noite morta que ainda não é madrugada. Projectados, enleados os fluidos de uma paixão extinta que tingem um chão há muito caminhado por nós.
Foi aqui que te vi pela primeira vez, tão bela como o pecado, tão sedutora como aquele canto escuro da minha mente, tão bela que te converteste nesse canto escuro, roubaste-me da minha luz.
Disseste-me sim demasiado cedo, caí, caí a acreditar num qualquer clássico cliché romântico, dês-te asas a besta dentro de mim como nenhuma antes de ti e agora suspeito que nenhuma te irá superar depois disto, foste o meu único pensamento em horas perdidas, horas em que o mundo morria para nós, em que podiam morrer todas a vidas deste glorioso planeta de miseráveis.
O sangue continua a correr, agora sei o que vai acontecer, tudo é claro, iluminado e até um pouco simples, simples pela primeira vez…
Quando voltei a este local era um último esforço para continuar eu (sabes bem o que és!), olho para o abismo e o abismo olha de volta para mim (sim, de volta para mim), não posso continuar assim, já não me reconheço, a minha paixão por ti mudou-me de uma forma com a qual não sei lidar (Diz-me o que fazer, porra!), preciso de uma saída…
A faca, sinto-a mais fria do que estava a espera, o sangue mais quente. Sabes que isto é o fim, sabes que assim que o meu sangue tocar a água estará tudo acabado.
Destruí-te, a culpa vai devorar-te e quando eles vierem por ti já não haverá nada da tua essência (monstro!).
A tua faca na minha pele, carne, cartilagem, osso é o teu final, o esvair do sangue como uma ampulheta.
Eu estou morto e tu mais valia que estivesses.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A intimidade de um cigarro

Delineio ideias na intimidade de um cigarro, desposo conceitos enquanto me retiro da vida por força do fumo. Posso roubar-te um pouco da tua morte? Algo que me retire o apetite por aquilo, o mais, o indefinido. Passa-me um pouco da tua vida, tão cheia, tão repleta de existências, de palavras que não conheço…
Digo ainda porque estou longe de perder a minha esperança, fala-me pois daquela estória, de como te perdeste, do sangue que pisaste, de como te sentiste morrer nos braços de alguém que não te amava. Inclui-me nessa tua vida, faz de mim uma adenda, na minha é tudo demasiado claro, vejo-me demasiado bem, não me consigo esconder de mim próprio por entre o fumo, como tu tão bem fazes…
Desvias-me do meu caminho, dizes-me que não, que me invejas…
Mas como pode isso acontecer?
Vida livre, tabula rasa assente em pilares bem firmados no terreno carnal, sei o que preciso de saber.
Dizes-me que sou luz, que não me devia esforçar por ser igual a ti, mas, mas…Dá-me outro cigarro! Deixa-me delinear linhas de fumo no teu corpo, perdidos, sem sentido, sem força para mais, será que existe mais?
Quero explorar a tua mente, quero conhecer todas as tuas estórias ao longo desta noite, caminhando ao longo de uma rua vazia ou naquele último bar, frio doce cortando as minhas amarras ou o doce calor da tua boca em entusiasmante deambulações.
Constrói para mim um conto no qual eu te salvo da escuridão que te persegue, em que não te faço esperar, em que sou o que merecemos.
Mas por agora, já, dá-me mais um cigarro. E não, não é deprimente, mas morremos todos.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Real

Só existes porque eu quero, só existes porque eu já existia, só existes porque a minha mente precisa de te conceber.
Repara, não vejo nada de ti fora da minha presença, só existes na minha interacção contigo, não vejo provas de ti fora de mim.
Passo dias a perseguir o teu cheiro e nunca o consigo encontrar. Faz sentido, não faz?
Não vale a pena contares-me a história da tua vida, eu sempre tive boa imaginação, sempre criei estórias para todos os meus amigos (imaginários). Essa tua posse não é mais que resquícios de todas as outras (reais) que vieram antes de ti e que virão depois e que estão aqui, agora, tão fugidias, tão reais e tão eternamente desinteressantes! Pelo menos tens isso a teu favor…
És falsa para o mundo, eu sei, mas não te preocupes, não stresses. Para mim tens mais coração, mais mente, mais consistência que qualquer uma, qualquer outra, qualquer realidade…
Mantenho te aqui, animal de estimação da minha mente, acaricio-te os cabelos, fazes-me tranças, nestes tempos esquecidos em pensamentos vãos, nestas paragens que só nós visitamos.
É verdade, já não sei quem doou para a tua construção, de onde vieram essas tuas orelhas, esse sorriso, essas ancas, essas mãos tão invasivas. Mas sei quem te deu esse domínio do Sonic e Knuckles, quem te explicou quem foi o Bakunin, quem te ensinou a entrada espanhola e a fazer bolonhesa. Quem fez de ti uma imaginação tão porreirinha…
Gosto de ti assim, Frankenstein fofinho, mesmo que não existas!
Já agora, onde é que estamos?
Perdi-me neste pensamento, devia ter saído dele há dois argumentos a trás.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Diz-me quem tens no MSN e te direi quem és!

De bons exemplos está cheia a blogosfera portuguesa!
E continuando o meu habito de não os seguir, temos a continuação a minha resposta a este post.

Este é um joguinho para postar as mensagens profundas, músicas, coisitas e tal e que mais que encontrem no MSN, vulgo messenger, vulgo "aquela-coisinha-cheia-de-iconeszinhos-
que-falam-comigo-e-me-mandam-fotos-indecentes".

Ora aqui vai:
1. "All you can really do is transmit messages..."
2. "...sinceramente não percebo..."
3. "those klingon bastards.... (Gotta hate the klingons!)
5 "..." (prémio concisão e adequação)
6. "Don't judge people from the way they look"
7. Damien Rice - Rootless Tree
8. I have a lover's quarrel with the world.

Ficam aqui as que me saltaram a vista, nada de pessoal para as pessoas não mencionadas, apenas quer dizer que tem que se esforçar mais um pedaço para serem, tipo, interessantes...
Hasta!

domingo, 6 de janeiro de 2008

Face



Um universo beija-me suavemente enquanto eu desejo as ruas cobertas de morte…
Sonhei ontem que gritava na avenida até perder a voz…
Sonhei com a tua sombra, perdida, à beira da ria...
Estranho, nunca te vi cá…
Sincero, já não me lembro da tua face, lembro-me do teu riso como se estivesses aqui, lembro-me tão bem da textura da tua pele, do teu cheiro...
Sim, o universo beija-me suavemente enquanto desejo ver as ruas cobertas de cadáveres…
Penso nisso todo o dia, naquele sentimento que não me larga, não me solta, não me deixa viver, de que está tudo correcto mas que eu continuo todas as escolhas erradas.
A procura de amor em todos os lugares errados…cresce!
Não chames a morte a ti, saboreia o beijo do universo, amanhã é outro dia. Talvez te veja, o mundo é pequeno, talvez me lembre da tua cara no momento mais irónico, talvez me esqueça da tua pele, não sei, não saberei.
Não sei.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O gato cliché


Ofereceram-me hoje um gato, um gato preto, um gato preto com um tufo branco na têmpora direita.
Sei que vai soar cliché, mas o gato passa umas vibrações algo satânicas, a sério, parece que é o meu familiar!
Por isso dei-lhe o nome de Cliché, parece me apropriado, para um gato negro familiar. Além disso fala comigo em francês e pede a minha alma, deve ter sido por isso que mo deram…
Sabes, estava lá por casa, sem nada para fazer, a olhar para ontem, numa obsolescência obsequiosa perante arcanas conquistas, isto é, devia fazer algo de novo, algo, mas não me apetecia levantar o rabo do sofá.
Ele chegou-se a mim, coçou a cabeça na minha coxa numa delícia cliché, olhou-me nos olhos e perguntou-me as horas, isto em francês, que nem sequer sei falar, mas foi isso que ele me perguntou!
São 13:37, moleza pós-almoço, será que as natas estavam estragadas? Sabes que o teu tempo está acabar, sabes que te posso dar o tempo que precisas, disse-me ele, voz inumana no meu crânio.
Que sabes da minha vida, Cliché? Que sabes da minha dor? De que os meus dias se finam? Porque não posso ver envelhecer as crianças do parque, qual foi o meu pecado?
Nenhum (ainda), aceita-me e eu verei que te tornes uma permanência.
Aceito, dá-me o que desejo…
Tempo passa, sinto-me algo desapontado, mas pelo menos fizeram-me um balancé…