
Não espero que louves a minha moral duvidosa, que compreendes a minha realidade relativa.
Esta era a única decisão possível, o único caminho aberto num deserto ético pleno de ravinas mal assinaladas.
Tive que te destruir nesta madrugada…
O teu sangue e as minhas lágrimas, as tuas lágrimas e o meu sangue, misturam-se com o nevoeiro de uma noite morta que ainda não é madrugada. Projectados, enleados os fluidos de uma paixão extinta que tingem um chão há muito caminhado por nós.
Foi aqui que te vi pela primeira vez, tão bela como o pecado, tão sedutora como aquele canto escuro da minha mente, tão bela que te converteste nesse canto escuro, roubaste-me da minha luz.
Disseste-me sim demasiado cedo, caí, caí a acreditar num qualquer clássico cliché romântico, dês-te asas a besta dentro de mim como nenhuma antes de ti e agora suspeito que nenhuma te irá superar depois disto, foste o meu único pensamento em horas perdidas, horas em que o mundo morria para nós, em que podiam morrer todas a vidas deste glorioso planeta de miseráveis.
O sangue continua a correr, agora sei o que vai acontecer, tudo é claro, iluminado e até um pouco simples, simples pela primeira vez…
Quando voltei a este local era um último esforço para continuar eu (sabes bem o que és!), olho para o abismo e o abismo olha de volta para mim (sim, de volta para mim), não posso continuar assim, já não me reconheço, a minha paixão por ti mudou-me de uma forma com a qual não sei lidar (Diz-me o que fazer, porra!), preciso de uma saída…
A faca, sinto-a mais fria do que estava a espera, o sangue mais quente. Sabes que isto é o fim, sabes que assim que o meu sangue tocar a água estará tudo acabado.
Destruí-te, a culpa vai devorar-te e quando eles vierem por ti já não haverá nada da tua essência (monstro!).
A tua faca na minha pele, carne, cartilagem, osso é o teu final, o esvair do sangue como uma ampulheta.
Eu estou morto e tu mais valia que estivesses.