domingo, 10 de fevereiro de 2008

A intimidade de um cigarro

Delineio ideias na intimidade de um cigarro, desposo conceitos enquanto me retiro da vida por força do fumo. Posso roubar-te um pouco da tua morte? Algo que me retire o apetite por aquilo, o mais, o indefinido. Passa-me um pouco da tua vida, tão cheia, tão repleta de existências, de palavras que não conheço…
Digo ainda porque estou longe de perder a minha esperança, fala-me pois daquela estória, de como te perdeste, do sangue que pisaste, de como te sentiste morrer nos braços de alguém que não te amava. Inclui-me nessa tua vida, faz de mim uma adenda, na minha é tudo demasiado claro, vejo-me demasiado bem, não me consigo esconder de mim próprio por entre o fumo, como tu tão bem fazes…
Desvias-me do meu caminho, dizes-me que não, que me invejas…
Mas como pode isso acontecer?
Vida livre, tabula rasa assente em pilares bem firmados no terreno carnal, sei o que preciso de saber.
Dizes-me que sou luz, que não me devia esforçar por ser igual a ti, mas, mas…Dá-me outro cigarro! Deixa-me delinear linhas de fumo no teu corpo, perdidos, sem sentido, sem força para mais, será que existe mais?
Quero explorar a tua mente, quero conhecer todas as tuas estórias ao longo desta noite, caminhando ao longo de uma rua vazia ou naquele último bar, frio doce cortando as minhas amarras ou o doce calor da tua boca em entusiasmante deambulações.
Constrói para mim um conto no qual eu te salvo da escuridão que te persegue, em que não te faço esperar, em que sou o que merecemos.
Mas por agora, já, dá-me mais um cigarro. E não, não é deprimente, mas morremos todos.

4 comentários:

AnCaLaGoN disse...

O melhor que posso dizer sobre isto é que essa fonte de inspiração deste texto já me deu muitos textos :)

Dizer isto é dizer... que o texto é forte, é real, feito de sentimentos que te assolam, tal como me assolam a mim. Viver mais, querer mais, sentir mais... não sabemos se somos assim tanto, mas o mundo dos outros é sempre... não o nosso.

Ga b riel Ba lta zar disse...

Novo blog auri-negro:

www.sempredobeira.blogspot.com

Anónimo disse...

este foi daqueles textos em que, depois de o lermos, fechamos os olhos, imaginamos exactamente a nossa pele na pele do escritor, todos os gestos, pensamentos, memórias, passos, enfim, tudo o que faz o que somos *

Unknown disse...

Palavras mudas suspensas numa briza fumácea ascendente falam mais que as que rebatem num temporal.