domingo, 17 de fevereiro de 2008

Sangue


Não espero que louves a minha moral duvidosa, que compreendes a minha realidade relativa.
Esta era a única decisão possível, o único caminho aberto num deserto ético pleno de ravinas mal assinaladas.
Tive que te destruir nesta madrugada…
O teu sangue e as minhas lágrimas, as tuas lágrimas e o meu sangue, misturam-se com o nevoeiro de uma noite morta que ainda não é madrugada. Projectados, enleados os fluidos de uma paixão extinta que tingem um chão há muito caminhado por nós.
Foi aqui que te vi pela primeira vez, tão bela como o pecado, tão sedutora como aquele canto escuro da minha mente, tão bela que te converteste nesse canto escuro, roubaste-me da minha luz.
Disseste-me sim demasiado cedo, caí, caí a acreditar num qualquer clássico cliché romântico, dês-te asas a besta dentro de mim como nenhuma antes de ti e agora suspeito que nenhuma te irá superar depois disto, foste o meu único pensamento em horas perdidas, horas em que o mundo morria para nós, em que podiam morrer todas a vidas deste glorioso planeta de miseráveis.
O sangue continua a correr, agora sei o que vai acontecer, tudo é claro, iluminado e até um pouco simples, simples pela primeira vez…
Quando voltei a este local era um último esforço para continuar eu (sabes bem o que és!), olho para o abismo e o abismo olha de volta para mim (sim, de volta para mim), não posso continuar assim, já não me reconheço, a minha paixão por ti mudou-me de uma forma com a qual não sei lidar (Diz-me o que fazer, porra!), preciso de uma saída…
A faca, sinto-a mais fria do que estava a espera, o sangue mais quente. Sabes que isto é o fim, sabes que assim que o meu sangue tocar a água estará tudo acabado.
Destruí-te, a culpa vai devorar-te e quando eles vierem por ti já não haverá nada da tua essência (monstro!).
A tua faca na minha pele, carne, cartilagem, osso é o teu final, o esvair do sangue como uma ampulheta.
Eu estou morto e tu mais valia que estivesses.

2 comentários:

AnCaLaGoN disse...

"Disseste-me sim demasiado cedo, caí, caí a acreditar num qualquer clássico cliché romântico, dês-te asas a besta dentro de mim como nenhuma antes de ti e agora suspeito que nenhuma te irá superar depois disto, foste o meu único pensamento em horas perdidas, horas em que o mundo morria para nós, em que podiam morrer todas a vidas deste glorioso planeta de miseráveis."


Decidi copiar esta passagem por uma simples razão. Estás marcado, e isso que carregas contigo não é uma cruz... é maldição.

Excelentemente bem escrito e descrito.

Love is a plague in a mix-match parade
Where the castaways look so deranged
When will children learn to let their wildernesses burn
And love will be new, never cold and vacant

The end, oh, the end
We live again
Oh, I grow weary of the end

Unknown disse...

Dad, when will this pain go away?

If you're lucky... never.


Esta é a primeira dentada na espada da vida. Muitas se seguirão e acredita, terás sangue para todas elas, porque o sangue regenera-se. É inevitável.