segunda-feira, 28 de abril de 2008

É assim

É assim, tenho uma imaginação muito activa, vejo tudo e vejo mais, crio complexas redes de sentidos, desfaço-as e entrelaço-as na esperança de auto-saciar, autopsiar mentalmente ideias que ainda esperneiam, alimentar-me como uma planta na sua fotossíntese, da luz do que vejo, do minério das conjecturas e da água que ainda não me banhou, das coisas que ainda não me tocaram. Tudo, caoticamente é para ser destrinçado, descarnado, sovado e espancando para a maior glória da minha imaginação. Espera, não sou como ele, não estou obcecado pela morte, não me interessa o que está para lá do véu, sabes que sim, compreende e não te enganes pelos rumores da minha guerra interior, são blasfémias crípticas contra um obcecado da vida! Não te rias, não estou a fugir da questão, é essa a questão, amo a viagem, nunca me interessa muito onde vou, quero ver o cenário e quiçá desviar o transporte, ameaçar o maquinista com uma faca com um cabo de marfim, interferir na realidade e destruir mentes no entretanto, roubar vasos de varandas e gatinhos de cestas alheias enquanto posso.
Para isso tenho que enfrentar a morte, a escuridão, os podres que atormentam a humanidade. Não me parece uma contradição! Que minimalismo intelectual! Causa e efeito, psicologia de pacotilha, se calhar não me deram abraços suficientes em miúdo, ora, obrigado Dr. Phil! Lá porque me visto de preto tenho que pertencer a um culto, lá porque estou de preto é obvio, claro e mais que certo que estou de luto, porra! És de ideias fixas, meu cabrão, ideologias mortas, convencionais e que já cheiram mal!
Ah, mais uma coisa! O cheeseburger é para levar? Hum hum…
São 13,37 €, faz favor.
Volte sempre!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Antiguidades


Amor?
Um homem gasto, alimentado pela memória do beijo que ela, jovem exuberante, lhe partilhara.
Razão:
Mais vale a pena experimentar, se não nunca saberei o sabor…
É esse o fim desta estória, o princípio de outra, o meio é a força quinética louca de um beijo criando um novo rumo para um vida em constante estagnação.
O principio? Ah, sim o principio!
Algures por entre o frio de Janeiro e o acalentar de Março, sozinho mas de companhia, estava consigo mesmo, com a cerveja num dos bares do costume por entre amigos dispensáveis como chocolate quente numa noite de Inverno, percebes?
Discutia-se um pouco de tudo, quiche, aitolahas, música celeste e energia geotérmica em São Félix da Marinha.
E então entrou ela, entrou naquela sala, aquela sala outrora mais fumarenta, maravilhas do mundo moderno, e irremediavelmente na vida dele, um lapso ocasional do destino, roda ruída na engrenagem da maquinaria cósmica.
Por falar nisso, alguém tem um cigarro que eu possa cravar?
Hummm…
Continuando, ele sentiu essa perturbação no ambiente, virou-se instintivamente, no ar “The Birth of Cool” do mestre Miles, ela pálida, ruiva, enevoada, pernas de Moulain Rouge numas calças causais. Virava cabeças observadoras, percebem?
Do género que falhas um gole do teu whiskey-cola, se é que percebes a minha onda...
Ela acende um charuto, Havanero, se não me falha o senso do olfacto.
Mentes tombam na sua presença, mas não a mente dele, sobrancelha erguida, sobrolho em posição extrema e quiçá uma ligeira atracção, talvez maior se não fosse agora o fumo que a envolvia. Um olhar cruzado pelo acaso de uma mão erguida na busca da satisfação. Silêncio mental, ambos, uma cadeira livre, uma oportunidade que ela não despreza, será que está perdida?
É uma surpresa para ele, não pelo acto mas por ela, ela, ela é algo mais…
“Sabias que existem casos de tubarões fêmeas que deram à luz sem interacção sexual?”
Que porra de pergunta era aquela?
Uma linha de engate?
Piada onanista?
É por ele estar sozinho?
“Sabia, sabia, disse-me o Sir Richard Atenborough”
Sarcástico no tom, no entanto mostrando algumas abertas.
Conversa evolui, mentes ligadas na iluminação e disparate, emoção e lógica enquanto o tempo passa sem atenção as chamadas de cortina dos empregados, luzes fortes, mesas arrumadas e esfregão no chão.
“É a minha última noite aqui”
Final fatídico, um pouco dele morreu nesse momento, depois de tanto tempo, depois de tanta solidão, alguém com quem cruzar espadas mentais, ela de lábios brilhantes
E ela beijou-o
A sério, beijou-o ali como se fosse o Ragnarok e ele fosse a ultima fogueira. Chocado e impressionado, retribuindo a intensidade, uma explosão tão não característica dele, deixado então com um adeus até sempre ou até um dia, o que vier primeiro…
Razão:
Mais vale a pena experimentar, se não nunca saberei o sabor…
Uma razão louvável, noutras circunstâncias, mas a falta de constância perturba-o, ele é um homem de hábitos, impulsão ao mínimo, lógica em overdrive, overkill de lógica. No entanto, não foi só ela que retirou um sabor daquele beijo, ele sentiu por um momento o sabor da loucura, do improviso, o bebop emocional que a vida pode guardar.
E ele ainda caminha por estes corredores, por ventura mais feliz agora, essa noite foi importante, abriu portas, mas essa é outra estória…

domingo, 13 de abril de 2008

Ironia


A ironia deste dia era nem ser nada irónico. Furo à primeira cadeira, von voyage, bênção dos céus e a minha cama agradece.
Segunda aula, pináculo da sorte, nada para entregar, trabalho de grupo, discussão e discordar por discordar, porque sim, se não onde estaria a piada?
Sério, onde?
Almoço fortuito, visão do futuro em excesso.
Ideias, ideias e ideias…
Parece uma música dos Pixies e o riso, o riso, pá, o riso parece uma pomba a cumprimentar o dia.
Fascina-me, a cor a criar padrões, sabes, o meu guarda-fatos é tão intoleravelmente negro, por vezes, uma vez a mais do que devia.
Gosto do preto, a sério, mas essas cores são inusitadas, não queria usar esta palavra, são porreiras, é isso, é tipo o chakra da base da espinha a tilintar, vibrar e quase a ondular. Faz te lembrar alguma daquela sensação de novidade de outros tempos, intersecção de tempos paralelos num momento, de facto, roxo indistinto. Inicio, já, ali, perversão em modo cruzeiro, o entusiasmo algo subjugado a uma sobrecarga sensorial. River Euphrates, era isso, deve ser pelas variações cromáticas da guitarra…
Voz talvez?
Vejo uma orelha cheia de furos assimétricos bem engraçados, numero impar de furos, gosto disso pela manhã disse me alguém, gosto do som ao vento de Aveiro numa hora matinal, aquele zumbido agudo metálico que te acorda ainda que a tua passividade perante o falso reboliço de cidade pouco povoada.
Não que tenho muito noção de números, de quantos eram, os furos, perdi todo o tipo de noções quando os Pixies me disseram olá.

domingo, 6 de abril de 2008

Palavras Ambíguas

Acho que me cansei de palavras ambíguas, de dar um passo atrás para dar um passo a frente. Estou farto de pensar, repensar e voltar a pensar em cada passo. De matutar na hipóteses e possibilidades, de só dizer as palavras seguras, de nunca sair do meu léxico de palavras multi-significantes, garantidas no não compromisso.
Preciso que me ensines novas palavras, impulsividade como modo, estilo e ímpeto de vida.
Mais vale fazer uma loucura do que enlouquecer sobre o peso da normalidade, certo?
Mais vale tentar e falhar do que ficar por aí olhando para o nada omnioso, esperando por algo que nunca virá, debaixo de um sol indiferente.
Queria sair deste circulo.